Em algum lugar remoto

Entre o que quis ser e o que pude,

Me iludo,

Como toda gente se ilude.

Na estrada estreita e longa

Que leva do primeiro berro ao além

Ando eu

Como toda gente também.

Mas ia despontando o dia

Quando, súbito, de lugar nenhum,

Olhei no espelho

E vi que era um…

Sofri, chorei, morri de amor

Toda gente tem dor

Mas a minha…

Lá sei onde guardei! Apenas sou.

E dos grandes gestos que esperam de mim

Nada ficou.

Fracassei, renasci,

Cá estou.

Não Espere de mim mais do que o paraíso

Que ainda busco

Nos desvãos do caminho

Onde a chave da porta do céu se perdeu

No escuro,

Embora no claro eu procure.

E antes que eu me cure

Deste mal metafísico

E volte a ver na vida

Apenas horários de trens,

Olho-me bem no espelho e digo:

“Não esquece, bicho,

Um dia você já fez chover e ventar

Pariu o tempo

E deu o que falar pra mais de mil anos.

Mas, não tem jeito.

A pílula fez efeito.

E volto a ser… quem mesmo?

Ah… eu.