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Essa versão da história da cigarra e da formiga é bastante inspiradora. Começa do mesmo modo: a formiga trabalhando e a cigarra cantando. A formiga advertindo, a cigarra desdenhando. O inverno chegando.
No dia mais frio do inverno, a formiga percebeu pancadas tímidas na sua porta e pensou: “deve ser a pobre cigarra, que desdenhou de todas as minhas avertências e admoestações, e agora precisa da minha ajuda”. E como era cristã e cumpridora de seu dever, a formiga abriu a porta com aquele misto de alívio e comiseração, sentimento tão frequente entre os caridosos…
A formiga estava certa. Era a cigarra. “Entre”, ela disse, com um tom de complacência na voz. “Pegue um pouco de comida”.
“Comida?” responde a cigarra. “Não, obrigada, não estou faminta.”
A formiga arregalou os olhos e só então percebeu um Rolls Royce estacionado na rua, na entrada do formigueiro. Voltou o olhar para a cigarra, que continuou:
“Na verdade, não preciso de nada. Enquanto eu cantava e você trabalhava, um caça-talentos me ouviu, gostou da minha voz e gravamos uns hits. Tá vendendo que nem água na Apple Store, e agora tou viajando pra Europa numa turnê internacional.”
A formiga estava estupefata. Olhos mais arregalados que os das saúvas vermelhas.
“Ouvi dizer”, disse a cigarra, “que você ama a Europa, especialmente a França. E como você sempre se preocupou comigo, me dando conselhos, tão bem intencionada, vim saber se você quer que eu lhe traga algo”
A formiga emburrou-se. De repente, estragou-se-lhe o dia. “Não”, disse a formiga. “Não quero que traga nada pra mim da França”. Virou as costas e ia entrando em casa. Mas antes de bater a porta, lembrou de algo:
“Se encontrar por lá um camarada chamado La Fontaine, mande-o à merda por mim, tá bom?”

Cachorrada